PET IHAC CONVIDA: UHITWÉ PATAXÓ – TRAJETÓRIA POLÍTICA DAS MULHERES INDÍGENAS

O último PET IHAC Convida do mês de outubro, datado 25/10/2019, contou com a ilustre presença da membra do PET Indígenas, Uhitwé Pataxó (NEIM/UFBA), para compartilhar a sua experiência teórico-prática sobre a Trajetória Política das Mulheres Indígenas. A discussão a respeito desta temática reforça o compromisso do Programa de Educação Tutorial na construção de espaços que aprimorem a academia e promovam uma formação acadêmica de excelência. Ademais, objetiva-se pensar em modelos educacionais inclusivos, críticos e transformadores, superando o modelo excludente, alienante e inerte ainda operante.

A partir dele, discutiu-se sobre a importância das mulheres indígenas na construção de uma sociedade comprometida com a preservação do meio ambiente e com o desenvolvimento sustentável e harmônico à vida natural, incluindo, aqui, o animal humano. Isso, pois, assim como as ancestrais de Uhitwé, ela e as demais guerreiras indígenas, há muito tempo, exercem àquilo que, na perspectiva euro-americana, é conhecido como ecofeminismo. Entretanto, embora a preferência pelo uso de nomenclaturas próprias, a exemplo do “mulherismo indígena”, “feminismo comunitário” e/ou até a denominação “mulher guerreira”, existem grupos femininos indígenas que, devido ao contato urbano, optam imposta ou voluntariamente pelo uso do termo “feminismo” para designar as atitudes e ações que as mulheres indígenas já fazem há séculos e/ou até milênios.

 

Uhitwé Pataxó contribuiu com a sua fala para a compreensão das relações entre o gênero feminino e o masculino no ambiente indígena, na medida em que ratificou o patriarcado e o machismo enquanto resquícios da colonização. Segundo ela, embora as atividades das mulheres estejam no seio da educação dos filhos e no plantio e produção de alimentos e o dos homens sejam referentes à caça e à guerra, tais não representam a superioridade de um quanto à outra, mas sim complementaridade das ações, podendo tais dinâmicas variarem de acordo com as organizações sociais próprias de cada etnia e/ou comunidade indígena. Por sua vez, o mulherismo indígena tem como objetivo integrar homens e mulheres na construção de uma sociedade igualitária, uma vez que os causadores das problemáticas devem estar incluídos nos processos que culminam em suas resoluções.

Apresentando-se enquanto uma líder feminina da comunidade indígena Pataxó, a convidada relatou sobre as invisibilidades presentes nos assuntos retratados na Universidade. Quando ingressou no curso Bacharelado de Gênero e Diversidade, deparou-se com a falta de discussões sobre as pautas das mulheres indígenas, a partir da qual ela questionou e enfatizou a necessidade de uma reestruturação da grade curricular acadêmica, sendo essa uma defasagem sistemática, presente também nos demais níveis escolares. De acordo com Uhitwé, as pessoas esquecem que o indígena é cidadão, trabalhador e contribuinte social, econômico e cultural do Brasil, sendo as mulheres a linha de frente das lutas indígenas pela terra e pelo reconhecimento, como aconteceu com a candidatura à vice-presidência de Sônia Guajajara, em 2018. Demonstrado no exemplo de ambas, cada vez mais as mulheres indígenas se apresentam como figuras potenciais a ocupar lugares de importância e espaços de poder burocráticos e deliberativos.

 

Sobre a convidada:

Uhitwé Pataxó é uma mulher indígena natural do Extremo Sul da Bahia. Em 2018, ingressou no curso Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Membra do Programa de Educação Tutorial Comunidades Indígenas (PET Indígenas). Atuou como Presidenta do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Estado da Bahia (CONDISI-BA), no Polo Base de Saúde da sua comunidade. Faz parte do Movimento dos Povos Indígenas da Bahia (MUPOIBA).

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